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ARTISTAS LATINAS RECOMENDA: Curso Artivismos Feministas Latinoamericanos I

Iniciativa da OTRATIERRA se pretende incentivar um espaço teórico-prático partindo das principais discussões dos feminismos latinoamericanos e suas práticas artísticas associadas.


Nesse ano foi lançado o projeto OTRATIERRA - Escola de Artivismos a partir da América Latina que é uma iniciativa coordenada pelas artistas e mediadoras culturais Melissa Proaño (Equador/França), Nirlyn Seijas (Venezuela/Brasil) e Camila Mora (Colômbia/México).

Nessa entrevista vamos conversar com Nirlyn Seijas que vai falar um pouco sobre esse o projeto, os cursos que estão sendo oferecidos e como a internet tem recebido essa iniciativa.

Alexandra Martins: Para começo de conversa, o que é a Escola de Artivismos Otra Tierra e quais motivos levaram a criação desse projeto?

Nirly Seijas: OTRATIERRA é um espaço de aprendizado e uma plataforma de encontro e articulação entre diversas pessoas de regiões, classes, gêneros e raças diversas, que visa mundializar a ideia de uma vida digna para todes como orientação para o século XXI. Se pretende dar visibilidade mundial às estéticas, poéticas e políticas produzida por artistas/ativistas que colaboram com as lutas pelos territórios, suas populações e suas epistemes na América Latina e estimular uma nova geração de artistas e ativistas para juntar suas energias nesta onda.

AM: Por enquanto, quais os projetos em mente?

NS:Curso Artivismos Feministas Latinoamericanos I que acontecerá entre 11 de janeiro e 12 de março, será totalmente virtual e sincrônico, oferecido em português e francês (com alguns materiais e conferências em espanhol). Ao todo teremos 16 encontros, com espaços teóricos e práticos, em que as participantes discutirão os eixos temáticos propostos; conhecerão obras e artistas latinoamericanas que se aliam às lutas feministas na região; experimentarão espaços de criação coletiva a partir de ferramentas artísticas que se desdobram das práticas das artistas estudadas; e criarão novas materialidades artísticas/criativas atualizadas e adaptadas às inquietações próprias e dos seus contextos.

Dois grandes assuntos serão tomados como eixos temáticos:

- “Femi-genocídios e necropolíticas: violência sistémica, territórios e mulheres”

Abordaremos as análises da antropóloga e ativista argentina Rita Segato e do teórico político camaronês Achille Mbembe, para compreender de que forma o corpo de mulheres se torna território para disputas pela dominação dos recursos, pessoas e territórios na região, à luz dos trabalhos artísticos da chilena Lotty Rosenfeld, a venezuelana Luz Urdaneta, e das mexicanas Ema Villanueva e Lorena Wolfer, dentre outras;

- “Propriedade privada e o confinamento/exploração do corpo de mulher”

Discutiremos as relações entre o corpo de mulher e a invenção da propriedade privada; a imposição da família nuclear; a religião/tradição/moral; a heterosexualidade, maternidade e monogamia compulsória; o confinamento doméstico de mulheres brancas vs a exploração de mulheres não brancas. Para esse módulo partiremos dos trabalhos da brasileira Lia Robato, peruana Mirella Carbone e as mexicanas Cecilia Appleton e Mônica Mayer, dentre outras.


Para maiores informações temos os seguintes sites:

otratierra.escoladeartivismos@gmail.com

55 71 991783067 (Brasil - Español e Português)

33 75 2449815 (França - Français)





AM:O que vocês consideram como Artivismo?

NS:Consideramos artivismos àquelas práticas estéticas que se estão na fronteira fértil e atraente entre arte e ativismo, entre imagem e ação, entre protesto e novos imaginários, renovando e reinventando a rebeldia e a comunidade. Artivismos se apresentam como ações performáticas e/ou imagens visuais que inspiram à ação coletiva, libertária e criativa que procura justiça social e ambiental para todos, todas e todes. Artivismos são feitos por pessoas (artistas ou não) que querem agir no mundo com estratégias que contemplam uma grande carga sensível, pessoas que se colocam em risco, pessoas inquietas e inconformes. É para essas pessoas que criamos OTRATIERRA - Escola de artivismos, onde estudamos tanto exemplos de acontecimentos, obras de artes, problemáticas sócio-políticas da história recente da América Latina, quanto exploramos construções artivistas próprias que respondem às nossas inquietações locais e globais.

AM: Por que partir de América Latina?

NS: Na OTRATIERRA pensamos o território latinoamericano como metáfora dos territórios, as epistemes e as populações em disputa no mundo e, portanto, acreditamos que os conhecimentos artísticos e políticos que temos criados a partir da América Latina, podem colaborar com quem está em busca de iniciar e/ou aprofundar nas estratégias artísticas e criativas que se juntam aos diversos ativismos que o futuro precisa.

AM: Neste momento, por causa da pandemia, imagino que vão funcionar apenas online. Mas vocês já têm planos para uma articulação ou sede pós-pandemia?

NS: No início da pandemia assisti uma palestra do coletivo RiseUP. Estavam conectadas mais de 200 pessoas do mundo inteiro para ouvir ativistas feministas. Foi quando Angela Davis falou “precisamos mundializar a luta, este é o momento” e entendi que esse momento tinha nos obrigado a nos reposicionar globalmente. Por isso, a ideia da OTRATIERRA é criar espaços de encontro, troca, aprendizado coletivo e global, com pessoas de diversos contextos utilizando as ferramentas tecnológicas para permitir o aprofundamento local/global dos cyberartivismos e offline artivismos também. Devemos fazer algumas atividades offline ao longo do tempo, mas o nosso foco é trabalhar online para juntar pessoas do mundo todo.

AM: O que as pessoas interessadas por essa iniciativa podem fazer para se aproximar do projeto?

NS: Propor trocas de serviços (fotografia, edição de vídeo, correção de textos, tradução, pesquisa, animação de redes, etc) por vagas nos cursos. Propostas de novas formações que se adequem à nossa proposta, indicação de pessoas e instituições ao redor do mundo que poderiam colaborar, apoio na divulgação direcionada (aquela mensagem inbox que manda para aqueles que você sabe tem tudo a ver com esta iniciativa) e o que mais inventarem. Estamos superabertas a colaborações!

AM: É sabido que o facebook está censurando o flyer do curso alegando “imagens fortes”. O que é uma contradição porque as postagens sobre lutas sociais têm sido constantemente censuradas, mas as opiniões machistas, racistas e fake news circulam tranquilamente.

O que vocês pensam sobre isso? E como tem conseguido articular outras formas de denúncia?

NS: Há alguns modos de encarar isso. Primeiro sentimos raiva e indignação. Depois entendemos o quão ameaçador somos as mulheres quando decidimos fazer, com nossos corpos, qualquer coisa que não seja o mandato de conduto aceito pela tradição machista/patriarcal/colonial. Isso nos dá força, nos faz entender a importância do que fazemos e estimular a pensar estratégias para driblar a censura. Sabemos que só fazemos isso em coletivo, então o convite é para tudo mundo compartilhar não apenas nosso flyer, mas todas as informações de mulheres que estão fazendo coisas interessantes e “fortes” no mundo! Precisamos ser ativas e viralizar nossa existência contaminando tudo até que vire OTRATIERRA! rs..!

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por

Alexandra Martins


Sobre a autora

Alexandra Martins nasceu em Brasília e já morou em Fortaleza, Juazeiro do Norte e Salvador. Artista interdisciplinar, Investiga memórias, ancestralidades e identidades nas criações artística de performance, instalação, fotografia e vídeo. Mestra em Estudos de Gênero e Mulheres pela UFBA. Especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela mesma instituição. Especialista em Artes Visuais pelo SENAC-DF. Graduada em Comunicação, Jornalismo. Integrou o Grupo de Pesquisa em Performance Corpos Informáticos (UnB) e fez parte da coletiva Tete a Teta. Também fez parte da Feminaria Musical, Grupo de Pesquisa em Experimentos Sonoros (UFBA). Teve trabalhos selecionadas para apresentar no Tubo de Ensaio (Brasília); Performance Corpo e Política (Brasília); Lacuna: Mostra de Videoarte (Brasília); Ruído. Gesto - Ação e Performance (Rio Grande do Sul); Festival de Fotografia de Porto Alegre; II Mostra de Arte e Gênero (Florianópolis); Continuum: Festival de Arte e Tecnologia (Recife); Encuentro de Acción en Vivo y Diferido (Colômbia) e no Hemispheric Institute of Performance and Politics (México). Participou das seguintes residências artísticas pelo Nordeste: Corpo em Casa (Salvador) e Sala Vazia (Fortaleza).




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